sábado, 27 de fevereiro de 2010

Anápolis perde autonomia política

O governo brasileiro já havia decidido que a instalação da Base Aérea dos aviões Mirage, vindos da França, seria no centro oeste do país.

O prefeito Henrique Santillo, no final de 1970 durante seu primeiro ano de administração, foi procurado por uma comissão de oficiais do Ministério da Aeronáutica, cujo objetivo era encontrar uma área dentro dos limites do Município de Anápolis, para instalação da Base Aérea para Mirage.

Outra cidade cidade, Formosa, também buscava abrigar a Base Aérea, apoiada por outro grupo de militares , onde um dos seus integrantes era ligado afetivamente aquele município.

As condições geográficas favoreceram Anápolis e o prefeito Henrique Santillo colaborou efetivamente nos expedientes necessários para a desapropriação da área escolhida pelos técnicos e projetistas da unidade militar.

Em abril de 1972 a Base Aérea foi inaugurada.

Mesmo estando vivendo no regime ditatorial, a convivência entre os militares da aeronáutica e a população civil anapolina foi tranquila. Nunca houve qualquer indício de atritos entre as duas comunidades naquela época, nem tampouco depois. Até mesmo na vida política da cidade nunca houve interferência dos integrantes da Base Aérea nos assuntos da politica interna de Anápolis.

A maior prova da atividade equidistante da Base Aérea com a vida política do município, ocorreu no final de 1972, pouco depois da sua inauguração quando aconteceram as eleições municipais.

José Batista Júnior foi eleito prefeito, assim como a maioria dos vereadores eleitos pelo MDB. As pressões que vinham eram dos governistas e não dos militares da Base Aérea.

A vitória do MDB teve um reflexo imediato nas forças arenistas, que contavam com a certeza de derrotar os emedebistas. A partir deste momento surgiram comentários que Anápolis, por causa da Base Aérea, seria transformada em Área de Segurança Nacional, perdendo sua autonomia política como acontecera anos antes com Canoas, no Rio Grande do Sul. Neste sentido notícias eram plantadas diariamente na grande imprensa goiana manipulando a opinião pública.

Um golpe contra a democracia ocorrido numa madrugada de 1972 na Assembléia Legislativa, com a supressão de eleições diretas na cidade de Goiás quando o Município foi considerado Estância Hidro Mineral, era dado como exemplo para a prática da violência anunciada de forma muito sutil. A justificativa para o golpe em Goiás, uma bica d’água na região de São João, a l00 km da sede, reforçava a idéia do que poderia vir contra Anápolis.

Muitas arbitrariedades já haviam acontecido no ano de l973.

A rádio Carajá que pertencia a integrantes do MDB desde l967 teve seus transmissores e estúdio invadidos pela policia militar do Estado na madrugada do dia da posse do Prefeito José Batista Júnior . A emissora teve que ser devolvida, sob pressão das armas a seu antigo proprietário Plinio Jayme. A prisão de ex-secretários de Henrique Santillo, depois libertados, foi uma trama urdida por arenistas e integrantes das forças reacionárias, com objetivo de amedrontar nossos companheiros e nos eliminar da vida politica. Henrique havia sido descredenciado como médico do INPS. Enfim, as arbitrariedades e violências eram o braço forte da repressão contra os democratas.Não nos dobravamos à pressão e violência. A tudo resistiamos.

No dia 28 de setembro de 1973, José Batista Júnior, retornava de uma viagem que empreendera a Goiânia para uma audiência marcada com o Secretário Estadual de Segurança Pública, que não o recebeu, e ouviu pelo rádio do carro que a cidade de Anápolis havia sido transformada em Município de Interesse da Segurança Nacional, tendo o prefeito seu mandato cassado, direitos políticos suspensos por 10 anos e o vice prefeito Milton Alves Ferreira, embora não sendo cassado, impedido de assumir o cargo de prefeito.

No mesmo instante a notícia confirmava o nome do engenheiro Irapuan Costa Júnior, presidente da Celg, sendo designado pelo presidente Emilio Garrastazu Médici, como interventor, prefeito nomeado de Anápolis.

O prefeito afastado nem passou pelo seu gabinete na prefeitura que funcionava no prédio onde hoje funciona a Câmara Municipal na Praça 3l de Julho. José Batista Jr. seguiu direto para sua residência na avenida Contorno, onde recebeu companheiros e populares que foram até lá em solidariedade à sua pessoa. José Batista Júnior foi o único detentor de mandato eletivo cassado no período governado por Garrastazu Médici.

Mais técnico que politico partidário, o engenheiro Irapuan Costa Júnior assumiu a prefeitura com disposição de tranquilizar a população abalada com a violência contra todos os anapolinos. Descartou as lideranças arenistas de Anápolis formando um secretariado mesclado por técnicos e empresários de Anápolis e Goiânia. Arregimentou equipe conceituada, de competente experiência na iniciativa pública e privada.

Controlada a insatisfação popular, Irapuan dava mostras claras que era alternativa para os governistas não alinhados com o grupo do Governador Leonino Caiado. Caravanas arenistas de todas as regiões vinham para hipotecar apoio, transformando seu pequeno gabinete na Prefeitura de Anápolis tão frequentado quanto ao de Leonino Caiado no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia.

Com a empolgação dos arenistas distantes do governador, a imprensa goiana destacava todos os dias as qualidades de administrador do engenheiro interventor em Anápolis, afirmando que sua passagem pela prefeitura seria efêmera. Davam como certa sua nomeação para suceder Leonino Caiado. O grande obstáculo que afirmavam enfrentar era o trabalho incansável do governador que não abria mão de Manoel dos Reis, prefeito de Goiânia, por ele nomeado.

Sem nenhuma surpresa para os mais ligados ao poder federal, o nome de Irapuan foi o indicado para ser governador. Afastando da prefeitura foi substituído por Euripedes Barsanulfo Junqueira que pouco mais de um ano antes fora derrotado por José Batista Jr. O professor Euripedes Junqueira ficou no cargo até janeiro de l975, sendo substituído pelo empresário Jamel Cecilio. após a posse de Irapuan no Governo de Goiás.

Além de Irapuan Costa Júnior, Euripedes Barsanulfo Junqueira e Jamel Cecilio aínda foram nomeados interventores em Anápolis o delegado da policia federal Lincoln Gomes de Almeida. o promotor de justiça Decil de Sá Abreu, o deputado Wolney Martins de Araujo, eleito pelo MDB que se filiou ao sucedâneo da Arena, PDS, advogado Olímpio Ferreira Sobrindo e o emedebista, ex-deputado federal Anapolino de Faria.

Com a vitória de Tancredo Neves para a presidência da República em l985 , Anápolis readquiriu sua autonomia política.

De 1973 a 1985, depois de doze anos de intervenção política no município e oito prefeitos nomeados, Anápolis volta a eleger democraticamente o seu prefeito, quando tive a honra de ser eleito, para um mandato de três anos.

Um fato curioso no episódio do dia da cassação de josé Batista Jr. mostrou o caráter brincalhão deste companheiro.

Chegando em casa naquele dia, encontrou dezenas de companheiros à sua espera prestando-lhe solidariedade. O clima era mesmo, de velório. As mulheres choravam, os homens manifestavam revolta e protestos

Disposto, aparentemente tranquilo, sem perder seu senso de humor, José Batista Júnior mais consolava que era consolado. Quando já tarde da noite, todos cansados, mas como mostra de companheirismo continuavam na vigília, João Abrão, seu chefe de gabinete e presidente municipal do MDB, alertou aos presente que já era hora de se retirarem :

- Bem amigos vamos para casa! Sei que ninguém vai conseguir domir mas vamos pelo menos descansar.

- Ah! Gente, atalhou José Batista Júnior, só estou esperando vocês sairem para cair na cama e dormir profundamente!

Sempre brincalhão e sincero, este é mesmo o José Batista Júnior.

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