sábado, 27 de fevereiro de 2010

Golpe na madrugada

Os onze deputados estaduais, integrantes da bancada do MDB, se revesaram na tribuna durante toda a madrugada até que o sol raiasse. Assim, evitou-se que na calada da noite, em plena madrugada, um golpe fosse dado para transformar a cidade de Goiás em Município de Estância Hidromineral.

A matéria foi aprovada, mas somente depois das 8 horas da manhã, quando os profissionais da imprensa e servidores da Assembléia Legislativa chegavam para o trabalho.

Esta brava bancada era composta pelos deputados Clepino Araújo, Derval de Paiva, João Felipe, José Avelino, Juarez Magalhães, Iturival Nascimento, Lucio Lincoln de Paiva, Luiz Soyer, Ronaldo Jayme, Tobias Alves e eu.

Disputei meu primeiro mandato eletivo em 1970 filiado ao MDB, como candidato a deputado estadual. Com mais de 13 mil votos, destes, obtidos 8 mil em Anápolis, fui o terceiro mais votado do Estado.

A bancada do MDB elegeu doze deputados contra vinte e um da Arena, mas pouco depois da posse perdemos Clarismar Fernandes que, como vereador em Goiânia, havia sido líder do prefeito Íris Rezende. Eleito deputado, abandonou a legenda, aderindo à Arena, propiciando ao governador Leonino Caiado os dois terços dos votos da Assembléia Legislativa.

Clepino Araújo, Derval de Paiva, Iturival Nascimento, João Felipe, José Avelino, Juarez Magalhães, Lucio Lincoln de Paiva, Luiz Soyer, Ronaldo Jayme, Tobias Alves e Adhemar Santillo formavam o time oposicionista na Assembléia Legislativa goiana. Sem número suficiente para aprovar projetos de lei e sem a disposição da bancada da Arena em analisar sem paixão os projetos emedebistas, só restava à oposição fiscalizar e denunciar os desacertos do governo.

Plagiando Chico Buarque de Holanda, que afirmou “os integrantes da repressão encheram muito o meu saco, mas eu também enchi o saco deles”, nós sofremos muitas retaliações, mas demos muito trabalho a eles também. A reação da bancada governista era tamanha que vez por outra chegava ao passional.

Decepção e revolta foi o que sentimos numa madrugada de sessões extraordinárias, apreciando mensagens do governo sem temas polêmicos, quando Clarismar Fernandes nos surpreendeu apresentando projeto de lei transformando a cidade de Goiás, em estância hidromineral.

O Município era administrado por Dário de Paiva, pequeno pecuarista na produção de leite, que, aceitando convite dos líderes do MDB, se candidatou a prefeito, desbancando a tradicional família Caiado pelo voto. Dário estava realizando um excelente trabalho e era voz corrente que faria o seu sucessor, em 1972.

O projeto de Clarismar transformando o município em estância hidromineral tirava do povo o direito de escolher o seu prefeito, porque a Constituição Federal previa que prefeitos de cidades dessa categoria seriam de livre indicação do governador. Com respaldo na Constituição Federal, sem nenhum estudo técnico, a justificativa foi uma pequena fonte sem grande importância, denominada Águas de São João, encontrada a mais de 100 km da sede do município.

A verdade é que a intenção era meramente política e eleitoral. O governador Leonino Caiado era daquela região e, a todo custo, ainda que arbitrariamente, queria reassumir o comando do município. A única coisa que conseguimos fazer foi evitar que o golpe se desse na calada da noite como queriam os governistas. Os 11 integrantes do MDB se revesaram na tribuna até que sol raiasse. Só depois das 8 horas da manhã, quando os profissionais da imprensa e servidores da Assembléia Legislativa chegavam para o trabalho, a matéria foi aprovada.

Conseguimos evitar que o golpe acontecesse na calada da madrugada, podendo dar transparência aos meios de comunicação desta manobra oportunista.

Uma observação a ser feita é que o projeto de lei tinha vício de origem, significando que a matéria deveria vir do Executivo para o Legislativo, o que não aconteceu. Mesmo assim, aprovada pela Assembléia Legislativa e sancionada pelo governador, a lei permitiu que, a partir de 1972, Vila Boa, hoje a Cidade de Goiás, passasse a ter prefeito nomeado muito mais pelo temor dos adversários do MDB enfrentarem os Paiva – Dário e Derval, que pelas Águas de São João.

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