sábado, 27 de fevereiro de 2010

Preconceito contra político

– Temos que conseguir cesta de alimentos para o Onofre. Sem dinheiro algum, sua família não suporta esperar o pagamento no final do mês. Além disso, ele precisa pagar um mês de aluguel adiantado.

Onofre era um amigo do Zé Maneco que havia chegado há pouco na cidade e, numa situação precária, precisava de nossa ajuda.

É muito natural que políticos sejam procurados para resolver problemas de pessoas carentes. Os próprios companheiros trazem estas situações, como aconteceu com o pedido do companheiro e líder na vila Jaiara, José Manoel Có, o Zé Maneco.

Como chefe de gabinete do prefeito Henrique Santillo, atendi Zé Maneco acompanhado do seu amigo Onofre, chegado recentemente de Minas Gerais, precisando de todo tipo de apoio para se instalar na cidade:

– Adhemar, o Onofre é mineiro, está morando na Vila Jaiara, gostaria que você lhe apresentasse à diretoria da indústria têxtil para arranjar-lhe emprego.

Conversei com um dos diretores daquela empresa que, para sorte do Onofre, justamente naquele dia, o responsável pelo almoxarifado havia solicitado demissão, abrindo a vaga. Quando Onofre foi em busca da vaga acompanhado do Zé Maneco, revelou que não tinha documento algum.

– Adhemar, o Onofre não possui nenhum documento!

Mandamos buscar a cópia da certidão de nascimento em sua terra natal, no interior de Minas. Fizemos sua inscrição na junta de alistamento militar. Tiramos sua cédula de identidade e carteira de trabalho. Conseguimos a abreugrafia. Onofre estava completamente documentado. Depois de muito tempo desempregado, estava agora em emprego fixo. Uma semana depois, Zé Maneco me procura, trazendo outras preocupações:

– Temos que conseguir cesta de alimentos para o Onofre. Sem dinheiro algum, sua família não suporta esperar o pagamento no final do mês. Além disso, ele precisa pagar um mês de aluguel adiantado.

Fizemos uma “vaquinha” entre os secretários da prefeitura em consideração à situação de necessidade do Onofre, que mal conhecíamos, mas, principalmente, em consideração ao Zé Maneco.

Nunca mais tivemos notícias do Onofre, imaginando que tudo estava bem. Voltei a vê-lo muito tempo depois, na tarde do dia da eleição de José Batista Júnior, nosso candidato a prefeito. Fora um dia cansativo e de muito trabalho para todos nós. A propaganda do candidato adversário tomava conta dos carros particulares e táxis, quase não se percebendo qualquer movimentação em favor de José Batista Jr. O que nos alentava eram a forma amistosa e os acenos positivos vindo dos eleitores transportados nos carros do outro candidato.

Foi nessa situação de preocupação com o resultado eleitoral que Zé Maneco e eu, desgastados pelo estafante trabalho do dia, nos encontrávamos em frente à quadra do CRA, onde a apuração aconteceria. Neste momento passava pela calçada oposta o Onofre, que foi saudado efusivamente por Zé Maneco:

– Ei, Onofre, já votou?

– Votei não, seu Zé!

– Por que você não votou, Onofre?

– Seu Zé, político nenhum presta. Só pensam neles. Não votei porque nenhum merece meu voto!

Nossa ansiedade só terminou com a apuração das urnas no dia seguinte. Mesmo que Onofre tivesse votado, nosso candidato José Batista Jr. teria vencido, pois a diferença se aproximou dos quatro mil votos.

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