sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sempre enfrentei desafios

Minha mãe sempre dizia que eu era teimoso.

Desde criança, quando queria fazer alguma coisa, insistia até conseguir realizar.

Sempre fui determinado, característica que me acompanha em toda a

vida. Sempre lutei por aquilo que quero e sonho.

Ainda jovem, apaixonado por futebol, fui jogar no juvenil do Ipiranga Atlético Clube. Nesta categoria, a nossa equipe era a melhor da cidade nos anos de 1957 e 1958.

Estávamos todos preparados para ascender ao time principal, quando ouvi o presidente ipiranguista, David Esteves de Azevedo, afirmar a um grupo de amigos que ouvia na Praça do Bom Jesus o programa esportivo das 11 horas pelo auto falante da Rádio Carajá instalado no telhado do prédio onde hoje funciona o Banco Itaú, que todos do time juvenil comandado por Anastácio Ferreira Barbosa, tinham condição para integrar o time principal, menos o Adhemar.

Enfrentei a crítica como desafio, redobrei meus esforços e assumi a vaga de lateral direito no time titular. Fui o único a jogar todas as partidas do campeonato anapolino de 1959, quando fomos campeões da cidade.

Da mesma forma aconteceu na eleição para o Grêmio Literário Castro Alves, do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida, para substituir Gil Xavier Nunes na presidência. Ninguém queria enfrentar a popularidade do estudante Sebastião França, o Zé Gia, comandante da Frente Libertadora, que havia dado vitória ao Juca Ludovico em Anápolis contra Mauro Borges, para o governo do Estado naquele ano, 1960. Sebastião França tinha grande preferência dos estudantes, mas o enfrentei vencendo o pleito por 13 votos na mais renhida e emocionante disputa registrada na história do Grêmio Castro Alves. Fiz uma administração tão eficiente e popular que culminou com minha reeleição, mesmo não sendo esse meu objetivo.

Quando trabalhava pela minha reeleição para Deputado Estadual, em 1974, assumi com determinação a candidatura a Deputado Federal para o impedir que Henrique Santillo, abandonasse a vida pública. Não havia me preparado, mas fui para a disputa num momento em que figuras tradicionais como Anapolino de Faria e José Freire se afastavam da disputa por não concordarem com os constantes casuísmos aplicados pelos ditadores de plantão. Ganhei a eleição como o segundo mais votado do MDB. Henrique o mais votado Deputado Estadual.

Numa bancada com aproximadamente 100 deputados federais, com apenas dois anos de convivência parlamentar na área federal, integrante de uma pequena bancada composta por 5 deputados eleitos pelo MDB, enfrentei a disputa interna no partido para o preenchimento da mais importante função do MDB na mesa diretora da Câmara dos Deputados, a vice-presidência. Com a garra de leão, cheguei ao final do primeiro escrutínio em 2º lugar. A bancada federal havia decidido que o representante do partido seria escolhido pela maioria absoluta dos votantes. Ninguém conseguiu a maioria absoluta na primeira votação. Disputei e venci Getulio Dias, integrante do grupo autêntico, por larga margem de votos. Fui eleito num pleito considerado por parlamentares e pela imprensa nacional como surpreendente.

Depois de ter sido convidado por Iris Rezende para ser seu vice-governador, nas eleições de 1982, honraria da qual abri mão para não prejudicar a possível candidatura de Henrique Santillo ao governo em 1986, fui convidado por Iris, antes mesmo do pleito realizado, para ser seu secretário de educação. Aceitei de pronto e me preparei para a missão que muitos consideravam que eu não desempenharia bem. Até hoje tenho o orgulho de ser aclamado pelas lideranças políticas e educacionais como o realizador de grande administração.

Enfrentei com muita disposição uma cirurgia de grande porte para retirar um tumor maligno, uma pinta no rosto diagnosticada como melanoma, que foi descoberto pelo dr. Jorge Mateus Simões, a quem devo o alerta que salvou minha vida. Depois de uma campanha eleitoral para a prefeitura de Anápolis, na qual não tive sucesso, fui ao dermatologista para tratar de umas manchas no braço. O médico dermatologista dr. Jorge medicou-me dizendo ser as manchas em questão sem importância, mas pediu-me que tirasse uma pinta no rosto. A pequena cirurgia foi realizada pelo dr. Evaristo Bueno que por precaução encaminhou o material para biópsia. O exame detectou melanoma grau III, tumor de grande gravidade.

A dra. Maria Paula Curado, auxiliada pelo dr. Roberto Di Conti, no Hospital Santa Helena, em Goiânia, fizeram o esvaziamento em meus rosto e axila, num procedimento demorado. Após todo o processo operatório, sei que a minha determinação, a competência da equipe médica e a vontade de Deus, me deram nova chance de vida.

Estas determinação e responsabilidade em concluir todas as tarefas que me proponho a realizar são virtudes que carrego desde meus tempos de juventude.

Não tendo o costume de fazer as tarefas pela metade, me inscrevi, com mais de 30 concorrentes, para uma prova de corrida para pedestres, de 8 mil metros, nos festejos de aniversário de Anápolis. A largada aconteceu em frente ao cine Santana, na Praça do Bom Jesus. A chegada foi marcada para o mesmo local. Fiz todo o trajeto com muita dedicação e força de vontade, embora muito atrás do campeão e vice. Cheguei ao final. Uma pequena assistência me aplaudiu freneticamente quando Antonio Abrão Isaac, o Tonico Isaac, e Jahudeir Lobo, o Esquerdinha, cronometrista da prova, anunciaram pela Rádio Carajá, que transmitia a corrida:

– Parabéns! Parabéns! Adhemar Santillo, atleta do Ipiranga, venceu pela persistência. Chegou em 3º lugar e leva como prêmio uma caneta.

Com a chegada quase que simultânea do campeão e do vice, os demais corredores desistiram. Eu fui até o fim, mesmo chegando muito tempo depois, quando muitos achavam até que a corrida já havia terminado e por isso já não havia quase ninguém para assistir minha façanha, além, é claro, dos árbitros da prova.

Como líder estudantil, presidente do Grêmio Literário Castro Alves, do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida ou Presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis, sempre fui bastante atuante e batalhador. Essa prática geralmente causa atritos com os administradores escolares ou dos setores questionados. Nunca tive intenção de contrapor a ninguém por capricho pessoal ou por futilidades, procurando sempre agir com justiça.

Walmir Bastos Ribeiro, na época líder estudantil e posteriormente eleito por sete vezes consecutivas vereador pelo MDB e PMDB, havia sido reprovado por não haver conseguido a nota mínima em francês, matéria facultativa no currículo do 2º grau, mas constante no currículo do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida. No ano seguinte teria que repetir a mesma série pela reprovação em francês. Antes que as aulas iniciassem a Secretaria Estadual de Educação decidiu que naquele ano, o seguinte ao da reprovação do Walmir, francês seria excluído do currículo. A direção do colégio insistia na sua reprovação. Tive que recorrer até ao Conselho Estadual de Educação para reformar a decisão da Diretoria do Colégio garantir sua aprovação, visto que a matéria em que fora reprovado não contaria mais do currículo. Aprovado, Walmir Bastos Ribeiro ficou conhecido entre os estudantes como o aluno que passou por decreto.

Com o golpe militar de 1964 fui afastado da presidência da UESA – União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis, cuidando apenas dos meus estudos e do trabalho como cronista esportivo e redator para o rádio jornalismo. Concluí naquele ano de 1964 o curso cientifico. Fiz a inscrição para o exame ao vestibular da Faculdade de Ciências Econômicas de Anápolis, FACEA. O curso científico do Colégio Estadual dava base de conhecimento para que alunos tivessem sucesso no vestibular, sem necessidade de “cursinhos”. Vários daqueles alunos passavam nos exames ao vestibular de medicina, engenharia, economia em Universidades concorridas. Como eu me sentia bem preparado na área de ciências exatas, prestei vestibular para a FACEA, Faculdade de Ciências Econômicas de Anápolis, que era procurada também por concluintes de cursos normall ou clássico sem muito preparo nesta área. Em matérias como Literatura Brasileira, Geografia, História meu desempenho foi ótimo, segundo afirmaram os professores dessas matérias. Em Matemática o Professor Hermógenes apresentou questões que estavam à altura de serem respondidas por qualquer concluinte de segundo grau.

Realizadas as provas escrita e oral, foi apresentada a relação dos aprovados. Como meu nome não contava entre os aprovados, indignado, pedi revisão de provas da matéria, sendo atendido pela comissão de avaliação. Não foi feita a revisão da prova, mas deram-se a oportunidade de realizá-la novamente, com o mesmo professor. Dia e horário acertados compareci à Faculdade acompanhado do estudante Gil Ferreira que havia sido aprovado no vestibular e fora meu colega no Colégio Estadual. Hermógenes apresentou como observadores os professores Roland Vieira Nunes, José da Cunha Bastos e Maura Helena Simões. Reagi:

- Professor, mesmo tendo respeito pelo trio de professores que

senhor apresenta, sugiro que Gil Ferreira também assista a prova, porque conhece a matéria.

Sem contestação foi aceita minha indicação e passamos às provas. Foram feitas cinco questões, todas desenvolvidas integralmente. Encerrado o questionamento, pensando que estava resolvida a prova,. Hermógenes sentenciou:

- O senhor confirmou a nota da prova oral.

- Quanto foi a nota?

- O senhor está com quatro.

Quase perdi a paciência, mas controlei e perguntei:

- Professor, de quanto eu vou precisar na prova escrita para garantir minha aprovação?

- O senhor vai precisar de no mínimo quatro pontos.

- Professor, agora o senhor venha com tudo porque não vai conseguir o intento de me reprovar.

- Você prefere responder 10 perguntas de um ponto cada ou cinco perguntas valendo dois pontos cada uma?

Preferi responder dez questões valendo um ponto cada uma.

Quando havia respondido quatro perguntas, senti que havia escorregado na resposta de uma delas. Hermógenes buscou a parte mais complexa e difícil do curso secundário, para formular as questões. Algumas delas o quadro negro não comportava o desenvolvimento e a resposta. Ao responder a quinta questão, indaguei:

- Professor, quantos pontos eu tenho até agora?

- Nesta prova o senhor já tem quatro pontos.

- Estou satisfeito, não quero responder o restante das questões.

Dali fui para a Praça do Bom Jesus onde os calouros e veteranos da FACEA faziam a festa do trote para os aprovados. Tive, como os demais a cabea raspada, o rosto pintado e comemorei alegremente com os aprovados. Matriculei-me e fui à aula no primeiro dia letivo. Despedi-me dos colegas e nunca mais retornei à FACEA como aluno.

Voltei à FACEA em 1983 como Secretário de Educação de Goiás para ajudar a instituição sair do caos em que se encontrava, não tendo obtido apoio necessário dos governos anteriores. Ainda como Secretário implantei seis cursos de Licenciatura naquela unidade, propiciando a criação do embrião da futura UNIANA, hoje UEG.

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