segunda-feira, 15 de março de 2010

A origem dos Irmãos Coragem e Metralha


Publicado na edição de 04/03/2010 do jornal Diário da Manhã

Com o golpe militar que destituiu o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964, as principais lideranças políticas pertencentes ao PSD, em Goiás, lideradas pelo senador Pedro Ludovico, foram paulatinamente cassadas ou cooptadas pelos novos detentores do poder. Os udenistas assumiram o governo no Estado, mesmo antes da vitória de Otávio Lage, em 1965, com a cassação do governador Mauro Borges e designação do general Meira Matos, como interventor.

Uma oposição diferente foi organizada em Goiás. Oposição disposta a lutar contra a ditadura e seus malefícios. Sem se deixar contaminar pelas benesses do poder. Assim jovens, na maioria sem passagem por outras siglas partidárias, se organizaram no Movimento Democrático Brasileiro-MDB.

Em Anápolis, como Raul Balduíno fora eleito prefeito numa aliança PSD-PTB, a oposição foi composta por remanescentes do PSD, que preferiram o MDB, a serem liderados de Henrique Fanstone, chefe arenista no município. Novas lideranças, principalmente do setor estudantil, optaram também pelo MDB.

A diferença de comportamento e prática política entre as duas correntes era notória. Enquanto os oriundos do PSD faziam oposição a Henrique Fanstone, os jovens faziam oposição à nova ordem política instalada no País. Faziam oposição à ditadura.

O PSD anapolino, nas eleições de 1965, fez acordo, por baixo do pano, com parte da Arena, a liderada pelos Caiado, apoiando Otávio Lage de Siqueira ao governo, “cristianizando” Peixoto da Silveira, candidato do PSD. Em troca, a ala Caiado votaria em Raul Balduíno, PSD|PTB, abandonando Henrique Fanstone, de quem era inimiga.

O primeiro grande embate interno no MDB anapolino aconteceu nas eleições legislativas de 1966. As 15 cadeiras na Câmara Municipal eram preenchidas sistematicamente por representantes de famílias numerosas no município. Na primeira disputa entre emedebistas e arenistas, esse quadro mudou, com a vitória de Henrique Antônio Santillo, como o vereador mais votado de todos os tempos em Anápolis, com 1.536 sufrágios. A família Santillo era formada por cinco componentes que vieram de Ribeirão Preto-SP, na década de 40.

A extraordinária votação por ele obtida e a desastrosa atitude do juiz eleitoral ao não diplomá-lo, ao alegar ser ele comunista, ensejaram o surgimento do santillismo, símbolo da resistência democrática local.

Em 1969, Henrique Santillo (MDB) foi eleito prefeito, derrotando Luiz Vieira (Arena). Nas eleições legislativas do ano seguinte, 1970, o MDB elegeu dez vereadores e a Arena os cinco restantes. Pelo MDB foi reeleito Anapolino de Faria a deputado federal, enquanto fui eleito deputado estadual. Assim que a Mesa Diretora da Câmara foi eleita, composta só por vereadores leais ao prefeito Henrique Santillo, os emedebistas, oriundos do velho PSD, romperam com Henrique Santillo. Três vereadores que os acompanhavam, Linconl Xavier Nunes, Pedro Sergio Sobrinho e João Divino Cremonez, passaram a votar com os arenistas, em oposição a Henrique Santillo. O MDB, que tinha maioria folgada de 10 X 5, passou a ser minoritário de 7 X 8.

Tentaram afastar o vereador Valmir Bastos (MDB) da presidência da Câmara. Acusado de subversivo, foi preso várias vezes. Queriam na verdade afastar o prefeito Henrique Santillo, elegendo um presidente que fosse seu adversário. A bravura do presidente e a coragem dos santillistas, apoiados pelo deputado Anapolino de Faria, evitaram a violência dos adesistas.

Em 1972, para a sucessão de Henrique Santillo, os adesistas do MDB apoiaram o candidato arenista, Euripedes Barsanulfo Junqueira. Mesmo assim, a vitória do professor José Batista Júnior (MDB) foi consagradora. A derrota do professor Euripedes Junqueira, considerado uma reserva moral do partido e de grande prestígio popular, assustou os arenistas de Goiás. Cansados de apanhar, decidiram tirar a autonomia política de Anápolis, transformando-a em Área de Interesse à Segurança Nacional.

A violência aconteceu em 28 de agosto de 1973, com base no AI-5, José Batista Júnior foi cassado e seu vice Milton Alves Ferreira, impedido de assumir o cargo. A Arena assumiu o poder em Anápolis, com a nomeação de Irapuan Costa Júnior.

O MDB continuou ganhando as eleições das quais o povo participava. Graças a isso tudo e à coragem que nunca faltou ao grupo, os santillistas ficaram conhecidos como “Irmãos Coragem”.

Em 1974, Henrique, candidato a deputado estadual e eu, candidato a deputado federal, aparecíamos no horário eleitoral, que era ao vivo, com o “pingue-pongue da verdade”, criticando a ditadura. Os “Irmãos Coragem” deixaram de ser marca meramente anapolina para ser de todo o Estado. Ao mesmo tempo, os Santillo foram conhecidos como os que metralhavam a ditadura. Daí a origem de “Irmãos Metralha”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário