terça-feira, 2 de março de 2010

Segundo Vice Presidente da Câmara

Calado, cotovelos sobre a mesa, cabeça entre as mãos, com ar de quem está compenetrado, pensando e ollhando diretamente para a câmera. Esta foi a tática do suplente de vereador de BH, Nelson Tibhau para usar seu espaço nos últimos programas do horário político. Quase esgotado o tempo, pronunciava as palavras:

- Assim é como fica todos os dias o Ministro Delfin Neto, imaginando qual a pancada que vai dar no povo no dia seguinte.

Foi eleito deputado federal, assim como outros que chegaram à Câmara dos Deputados como por milagre político.

No período do Governo Militar vários foram os adiamentos das eleições diretas para Governo dos Estados, previstas na Constituição Federal, como em 1970,1974 e l978.

Nas eleições de 1974, analistas políticos e integrantes do MDB acreditavam que com mais um adiamento de eleições diretas para os Governadores não valia a pena resistir. No início do ano o ambiente político era de descrença total. Ao escolher candidatos, nenhuma figura expressiva do partido em Goiás pleiteou a vaga ao Senado.

Irapuan foi escolhido para ser Governador pela ARENA, desbancando o candidato de Leonino, Manoel dos Reis, que como prêmio seria candidato a Senador. A impressão que se tinha é que o Senador da ARENA não teria sequer adversário. Lázaro Barbosa, que havia sido candidato a Deputado Estadual sem sucesso eleitoral em 1970, seria apenas candidato simbólico ao Senado.

Iniciados os programas de rádio e televisão, com os candidatos se apresentando ao vivo nos programas eleitorais, o crescimento do MDB foi extraordinário. Em pouco tempo, a candidatura de Lázaro Barbosa ao Senado contagiou o eleitorado goiano. Venceu a eleição com uma larga margem de votos.

A vitória emedebista foi fantástica no Brasil inteiro: Pernambuco com Marcos Freyre; Amazonas com Evandro Carreira; São Paulo com Orestes Quércia; Rio de Janeiro com Saturnino Braga; Rio Grande do Sul com Paulo Brossard; Santa Catarina com Jaison Barreto; Rio Grande do Norte com Agenor Marinho, e muitas outras. Foram dezesseis vitórias que, como escreveu Sebastião Nery, abalaram o Brasil.

Não foi diferente para a Câmara Federal. Nelson Thibau, suplente de

Vereador em Belo Horizonte, foi o mais votado Deputado Federal do MDB, ganhando até de Tancredo Neves. Simplesmente porque utilizou as duas últimas participações do horário eleitoral, calado em frente a câmera, cotovelos sobre a mesa, cabeça entre as mãos, com ar de quem está compenetrado, pensando. Quase esgotado o tempo, pronunciava as palavras:

- Assim é como fica todos os dias o Ministro Delfin Neto, imaginando qual a pancada que vai dar no povo no dia seguinte.

No Paraná, com trinta e duas cadeiras na Câmara dos Deputados, o MDB lançou apenas 17 candidatos. A Arena disputou eleição com chapa completa. Os mais prestigiados líderes arenistas se candidataram. Apurados os votos, a ARENA fez dezesseis Deputados e o MDB, também dezesseis. Pelo MDB foram eleitos Deputados como Álvaro Dias com 230 mil votos, Antônio Belinatti com 150 mil e pelo menos oito Deputados com mais de cem mil votos cada um. No entanto, outros foram eleitos com seis, quatro e até dois mil e quinhentos votos, como foi o caso de Expedito Zanotti.

A eleição de 1974 para a Câmara dos Deputados foi um universo de figuras consagradas na política regional e federal e outros anônimos que se dispuseram a candidatar pelo MDB, até sem expectativa de vitória. Por Goiás foram eleitos Juarez Bernardes, Adhemar Santillo, Fernando Cunha Jr., Genervino da Fonseca e Iturival Nascimento, nesta ordem de votação.

Tive facilidade para fazer amizade com toda a bancada nacional.

Constituímos o grupo neo-autêntico com expressões como João Gilberto, Odacyr Klein, Rosa Flores, Lidovino Fanton, Deputados do Rio Grande do Sul; Álvaro Dias, do Paraná; Luiz Henrique, de Santa Catarina; Airton Soares, de São Paulo; Tarcísio Delgado, de Minas Gerais; Jáder Barbalho, do Pará, e tantos outros.

Fizemos oposição implacável à ditadura. Os novatos menos votados tinham a minha atenção, pois percebiam que não eram levados à sério pelos mais antigos ou pelas figuras mais representativas do partido.

No segundo ano de mandato em 1976, foram realizadas as eleições para a formação da Mesa Diretora da Câmara. À ARENA cabia cargos de Presidente, 1º Vice Presidente, 1º e 3 Secretários. Ao MDB, a 2ª Vice Presidência, 2ª e 4ª Secretarias. Na ARENA, a escolha foi por consenso. Marco Maciel para Presidência, João Linhares para 1ª Vice, Djalma Bessa para 1ª Secretaria e João Clímaco, para a 3ª Secretaria. No MDB, a escolha foi no voto secreto de toda bancada. Quem quisesse disputar, deveria se inscrever, buscando seus votos. No primeiro escrutínio, Jader Barbalho se elegeu para 2ª Secretaria, José Camargo para a 4ª Secretaria, e Nabor Junior para Suplente.

O cargo que eu disputava era o mais cobiçado, a 2ª Vice Presidência, assim todos estavam envolvidos para eleger o seu preferido. Getúlio Dias, Deputado pelo Rio Grande do Sul, era apoiado pelos autênticos. Os moderados como Tancredo Neves, Franco Montoro, Nelson Carneiro e outros, apoiaram outro candidato, que era também goiano, Juarez Bernardes. Disputavam a vaga, Fábio Fonseca pela bancada mineira, Hélio de Almeida, ex-Ministro do Governo João Goulart, dividia com Emanuel Weissement, os votos do Rio de Janeiro. Juarez Bernardes e eu da bancada de Goiás.

Trabalhei intensamente com integrantes do grupo neo-autêntico e com os novatos de pequena votação. Para ser eleito o candidato, precisava de mais de 50% dos votantes. Realizada a eleição, Getúlio Dias ficou em primeiro lugar e eu em segundo, sem nenhum ter atingido mais de cinqüenta por cento. Na segunda votação, fui o mais votado, sendo eleito 2º Vice Presidente da Câmara dos Deputados, em substituição a Alencar Furtado, também do MDB.

Exerci a função de Segundo Vice-Presidente da Câmara dos Deputados até fevereiro de 1979.

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