segunda-feira, 3 de maio de 2010

Lázaro da bicicleta, o locutor diferente

Publicado na edição de 03/05/2010 do jornal Diário da Manhã

O Estádio Manoel Demostenes em Anápolis, campo de chão batido, cerca de ripas em substituição ao alambrado, sem arquibancadas e banheiros, além de não possuir vestiários para os clubes e árbitros, foi palco de acontecimentos monumentais no futebol. A apresentação da Portuguesa de Desportos, no início dos anos 50, com seus ídolos, Muca, Djalma Santos, Brandãozinho, Julinho, Pinga , Nininho e tantos outros, foi um deles.

No Manoel Demostenes foram realizados jogos históricos, onde se exibiram renomados craques anapolinos e goianienses. Tambem foi lá que torcedores fizeram a diferença. Caetano, da Associação Atletica Anapolina, com seu bordão inconfundível, “óh o pé dele Carpaneda”, Teodora a dama tricolor impecávelmente vestida e sua inseparável sombrinha, além de Mané Padeiro,que muitas vezes assistia jogos do seu Anápolis, dentro do estádio, em cima da carroça-baú, cheia de pães, roscas e quitandas.

Lá, Alcemiro Rodrigues, o popular Gigante, trajando calça esporte dobrada até o meio da canela, botina de carregar pela boca, paletó azul marinho, cachecol, chapeu e guarda chuva desbotado pelo uso, se transformou no mais popular árbito de Anápolis, no amadorismo.

Campo lotado, torcedores em silêncio absoluto, assistiram no Manoel Demostenes,Glicério Mellazo, artilheiro do Ypiranga se negar a cobrar pênalti contra o Anápolis, aos 43 minutos do segundo tempo. Ficou assustado e amedrontado com a presença em campo do presidente tricolor, Juiz de Paz no Município, Joâo Bezze, que discretamente portava um 38 na cintura e indagava em vóz alta e pausada aos alvinegros: “ Quem vai bater o pênalti ?” Como ninguém se apresentou para a heróica missão, Joaquim Diogo encerrou a partida, e o pênalti só foi cobrado, com os portôes fechados ao público, três meses depois, por decisão da justiça desportiva.

Consagrado e respeitado jornalista Jayro Rodrigues da Silveira, iniciou sua carreira de comentarista esportivo na Rádio Santana de Anápolis, no Estádio Manoel Demostenes. Polêmico e discreto, Jayro nunca deixou transparecer sua simpatia e amor pela rubra, a xata. A Rádio Santana não possuia o poder e penetração da Bandeirantes de Sâo Paulo, que com sua Cadeia Verde-Amarela atingia todo Brasil, mas tinha sua cabine de madeira, toda pintada de verde-amarelo.

Enquanto Jayro Rodrigues comentava pela Rádio Santana, uma outra grande figura, essa consagrada no meio jurídico goiano, Getúlio Targino, no Manoel Demostenes, comentava pela Rádio Cultura. Os comentaristas seguiram caminhos exitósos e diferentes, mas suas emissoras tiveram o mesmo destino: fechadas que foram no período ditatorial, pelo ministro Quandt de Oliveira, da Viação e Obrás Públicas, responsável pela área das comunicações, em maio de 1975, por decisão política.

Outra figura popularíssima, que fez história marcante no Manoel Demostenes, foi Lázaro Gomes, o Lázaro da Bicicleta. Todas as tardes quando treinavam Anapolina, Anápolis, Ypiranga ou São Francisco, Lázaro chegava mais cedo, em sua bicicleta, acomodava-se ao lado da cerca de ripas e com uma latinha, geralmente de extrato de tomate, transmitia todos os lances do treino coletivo. No transcurso do treinamento, atletas se dirigiam até onde o locutor se encontrava, para esclarecer uma jogada mais polêmica. Lázaro da Bicicleta era ouvido e admirado pela garotada. Os meninos prestavam muito mais atenção no que Lázaro dizia e comentava, que nos lances dentro de campo. Lázaro da Bicicleta também faz parte da história do futebol anapolino e do estádio Manoel Demostenes.

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