quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Antiga estação pode acabar com integração

Publicado na edição de 26/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Nas cidades brasileiras de portes médio e grande, o maior desafio enfrentado pelos prefeitos municipais, tem sido o transporte coletivo urbano. Por mais que os governantes se esforcem, o transporte de massa, principalmente o rodoviário, sempre está faltando alguma coisa. Em Anápolis, mesmo com o excelente serviço prestado pelo Transporte Coletivo de Anápolis-TCA, do grupo Odilon Santos, frequentemente renovando sua frota, veículos passando por vistorias de manutenção diárias, motoristas e cobradores submetidos a constantes cursos de relacionamento humano, ainda assim há reclamações. Poucas ! Mas há.

Em 1986, quando assumi a prefeitura municipal, depois de 12 anos de prefeitos nomeados, a população reclamava do preço da passagem e falta de local onde pudesse fazer o embarque e desembarque com segurança e um mínimo de conforto. Todos os ônibus que serviam a população operavam numa das laterais da Praça Americano do Brasil. Sem cobertura para agasalhar o usuário da chuva ou sol. Não havia um só banco para o descanso de idosos, gestantes ou pessoas doentes e com necessidades especiais. Bares e lanchonetes funcionavam num complexo de alvenaria – o minhocão – construído pela prefeitura, no meio da Rua Tonico de Pina, em frente ao estacionamento dos ônibus.

Cidade crescendo territorial e demograficamente. O povo clamando por novas linhas e mais ônibus. Decidimos construir no antigo parque de manobras da estação ferroviária, ao lado da Praça Americano do Brasil, um terminal de passageiros. Em outubro de 1986 foi inaugurado. Além de dar segurança e conforto ao usuário, criamos o sistema total de integração das linhas existentes e das que viessem a ser implantadas. Assim o passageiro já não teria que pagar duas passagens quando, por exemplo, saia da Vila Jaiara para trabalhar nas empresas do Daia ou no Friboi, da Vila Fabril. De um ponto a outro da cidade com uma única passagem. O terminal funciona como o centro de uma roda de bicicleta. Os raios, são as linhas convergindo todas para o centro. A conquista do anapolino foi dupla: local confortável e seguro para embarque e desembarque e aproximadamente 30 mil usuários com redução imediata de 50% nas despesas com transporte, com a integração.

Como o crescimento populacional de Anápolis tem sido maior que o da média nacional, quando retornamos à prefeitura em 1997, onze anos após à construção do terminal urbano, realizamos sua ampliação. Utilizamos a parte da frente da antiga estação. Os ônibus que servem as linhas mais recentes, atendendo bairros novos, mas densamente habitados, foram instalados na área ampliada. O atendimento ao usuário se aproximou da perfeição. Não se tem notícia de nenhuma outra cidade brasileira que possua sistema tão perfeito. Os ônibus chegam e saem do terminal no horário pré-determinado. São poucas as estações rodoviárias interestaduais que oferecem serviço, limpeza e estrutura do terminal urbano de Anápolis.

Toda conquista social, segurança e conforto obtidos pelo usuário do transporte rodoviário urbano da cidade, podem desaparecer, caso prevaleça proposta do Ministério Público determinando a destruição da ampliação do terminal, feita há 12 anos. A alegação para a derrubada dos melhoramentos é a de que a antiga estação ferroviária, construída em 1935, ficou encravada e com pouca visibilidade externa, na parte ampliada. Alegam que embora totalmente preservada a estação não está totalmente à vista dos que frequentam ou passem pela Praça Americano do Brasil. Só a destruição do terminal daria a visibilidade ao prédio, tombado pelo patrimônio histórico municipal.

Destruir parte ampliada, significa destruir o terminal inteiro. Sem a parte ampliada e condenada à destruição, o terminal não suporta mais que 60% dos ônibus. O prejuízo será total para o usuário que ficará sem o benefício da integração. Voltará ao estágio humilhante de 24 anos atrás quando era atendido na rua, tomando chuva, enfrentando sol e correndo risco de ser atropelado. Há forma mais inteligente e eficaz de preservar o patrimônio histórico. A substituição do alambrado metálico que separa o público externo da parte interna, por vidros transparentes e resistentes seria saída mais lógica. Aliás, a estação só está intacta e preservada por estar dentro do terminal urbano. Sendo isolada como querem, em pouco tempo poderá ser abrigo de marginais, pichada e destruída por vândalos.

Para a empresa que explora o serviço, acabar com o terminal não haverá prejuízo, porque implantará a bilhetagem eletrônica. Porém, os usuários perderão o mais perfeito sistema de integração existente no Brasil. Cobradores da empresa serão desempregados. O prejuízo para o intenso comercio da redondeza será incalculável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário