sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Religião e política, ontem e hoje

Natural de Itaguara-MG, Raimundo de Oliveira Lima, padre Raimundo, chegou a Anápolis na década de 40. Casado com a professora Zezé, também mineira, foi professor rural, na fazenda de Chico Mendonça, em Souzânia. Ao mudar-se para o setor urbano do município, trabalhou no cartório do 2° Ofício e passou a fazer parte dos congregados marianos, na Igreja do Bom Jesus. Sério, respeitado e admirado, Raimundo foi convidado por Achilles de Pina, à época maior expressão política do PSD no município, para ser candidato a vereador, nas eleições municipais de 1962. Sem pedir votos, instruindo congregados marianos nas fazendas e distritos a votarem nos candidatos representantes da sua região, Raimundo mesmo assim, foi o vereador mais votado. Em 1966, no MDB, reelegeu-se. Seu futuro era promissor e brilhante como político.

Na metade do segundo mandato, renunciou a vereança para ser ordenado diácono da igreja católica. Após conversa franca que teve com o bispo diocesano de Anápolis, dom Epaminondas de Araújo, decidiu encerrar sua curta e belíssima carreira política para dedicar-se integralmente aos trabalhos da igreja. Hoje, sem sua estimada e querida Zezé, Raimundo de Oliveira Lima é sacerdote diocesano. Com seus 95 anos, celebra missa semanalmente por inúmeras paróquias do município.

A história do diácono, hoje frei Raimundo, realça o comportamento da diocese anapolina. Alguém do comando da igreja que se envolva na luta partidária não tem apoio da diocese. Desde sua instalação, tem orientado aos católicos votarem com responsabilidade.

Votam de acordo com a consciência de cada um. Frei Raimundo que já era político militante, teve que decidir-se: diácono ou político. Para dom Epaminondas a questão não era Raimundo. Esse era homem sério, conduta ilibada. A igreja solicitou seu afastamento do mandato para se precaver. Poderia servir de pretexto a algum oportunista, no futuro. Dom Epaminondas Araújo dizia que qualquer pessoa cometendo um equívoco ou delito, a culpa não passa da pessoa do delituoso. Alguma autoridade na igreja, cometendo falha ou deslize, quem fica manchada na sociedade é a igreja. Sempre dizia ser a política necessária. Seus conselhos eram que os cristãos devem ser informados pela igreja quais valores deve defender. Candidaturas são para os leigos.

Entre os evangélicos de Anápolis, pastor Antônio Carneiro, da igreja Assembleia de Deus do Ministério de Anápolis, eleito vereador na década de 60, foi primeiro a ser eleito com o título de pastor. Católicos e evangélicos têm sido destaques na política anapolina, sem usarema estrutura da igreja a que pertencem. Frequentam missas e cultos em Honra e Louvor a Cristo. Não transformam paroquianos e irmãos compulsoriamente, em massa de manobra para comícios políticos.

No passado, os pretendentes a cargos eletivos frequentavam bastante os terreiros de Umbanda. Assistiam e participavam da cerimônia. Os chefes dos terreiros eram mais liberais. Mesmo assim, democraticamente, recebiam todos os políticos com a mesma distinção e cordialidade. Não eram ligados a partido político. Raramente uma figura de um terreiro se candidatava a cargo eletivo. Abriam as portas dos trabalhos para que os futuros govermos compreendessem melhor sobre os trabalhos que realizavam.

José Escobar era frequentador do terreiro do Raimundinho, no bairro Boa Vista. Seu pai influente líder evangélico em Anápolis.

Pastor Cavalcante, muito estimado e querido pela comunidade. Candidato a vereador, Escobar foi convidado pelo pai a assitir a culto na ingreja que pastoreava, na Vila Santa Maria de Nazareth. Conhecedor das virtudes do filho, com satisfação, o apresentou aos fiéis da igreja. Depois de realçar seus valores de cidadão, pastor Cavalvantefez questão de enaltecer os compromissos evangélicos do filho. Passou-lhe a palavra para a oração final:

"Irmãos, eu quase não tenho frequentado a igreja. Meu pai dissertou muita coisa a meu respeito. Admiro e respeito a fé e trabalho de vocês todos. Fico orgulhoso por isso... Confesso que gosto mesmo é do espiritismo!"

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