sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MDB e a volta por cima

A vitória de Lázaro Barbosa para o Senado, em 1974, foi inacreditável. As cassações de mandatos, como a do prefeito de Anápolis, José Batista Júnior; processos e prisão, como os que ocorreram contra o deputado federal Francisco Pinto, por ter discursado contra a presença do ditador do Chile, Pinochet, no Brasil; e as constantes mudanças da Constituição alterando a data para o retorno das eleições diretas para escolha dos governadores, desanimavam até os mais convictos integrantes das oposições. Em 1974 o desânimo abateu companheiros como Anapolino de Faria e José Freire, nossos principais líderes do MDB. Não quiseram disputar as eleições. Participaram ativamente da campanha apoiando outras candidaturas.

Lázaro aceitou ser candidato a senador. No início, adversários, a imprensa e até companheiros o consideravam "candidato simbólico".Com o passar do tempo, sua candidatura foi crescendo, crescendo e, no final, ninguém tinha mais dúvida de sua vitória. Com a eleição de 16 senadores do MDB as esperanças retornaram e o lema de toda a sociedade brasileira passou a ser o de que "vale à pena lutar".

Nas eleições municipais de 1976 o crescimento do MDB, em todo o território nacional, foi gigantesco. Aqui em Goiás, conquistamos importantes prefeituras e a maioria em dezenas de Câmaras Municipais. Em algumas cidades, como Uruaçu, tivemos de lançar mão de três sublegendas para agasalhar as correntes que internamente já começavam a aparecer no partido. Em outras, como ocorreu em Mara Rosa, município vizinho de Uruaçu, disputamos sem nenhuma esquematização. Companheiro foi ao pleito apenas para dar chance aos descontentes.

Fato digno de registro, na campanha de 76, ocorreu em Niquelândia. Jovino Conder, hoje encontrado, com freqüência, nos corredores do Congresso ou gabinetes de deputados e senadores, nos procurou, Henrique Santillo e eu, mostrando-nos seu desejo de disputar a prefeitura daquele município. No dia seguinte, às 18 horas, encerraria o prazo para o registro de candidatura. Queria que indicássemos alguém para providenciar a papelada necessária ao registro. Indicamos o professor Lucas Gonçalves, integrante do Diretório do MDB de Anápolis, que lhe desse assistência técnica e jurídica. Mesmo não sendo advogado, Lucas aceitou o desafio. Na madrugada, saíram para Niquelândia. Quando se aproximavam do local denominado "quebra-linha", Conder, também motorista do Aero Willys, parou o carro, virou-se para Lucas e lhe disse:
-- Agora, você dirige, vou ficar deitado no banco detrás, porque não posso ser visto. Tenho muitos inimigos na cidade.
-- Como você quer ser candidato se você não pode andar pela cidade. Questionou Lucas.
Conder se justificou e Lucas foi para o volante.

Quando chegaram na residência do senhor Manoel Dourado, Jovino saiu rápido do carro e entrou cada adentro. Tentou convencer o anfitrião a se candidatar à vice-prefeito em sua chapa. Diante da resistência de Dourado, passaram a analisar outros nomes. Debruçados que se encontravam, sobre a lista de um possível candidato, apareceu ao local um lavrador, que já tinha vivido tudo que tinha direito e um pouco mais. Convidado por Jovino Conder, aceitou o convite para figurar na chapa emedebista.

Quando o professor Lucas Gonçalves estava começando a preparar os papéis para o registro do vice-prefeito, a esposa do lavrador chegou ao local para dizer, dentre outras coisas, que se ele candidatasse ela o abandonaria. A discussão foi longa. Quando a mulher saiu do local, o lavrador confirmou sua candidatura. Resolvida a questão do candidato a vice-prefeito, era o momento de consolidar a chapa oposicionista com a regulamentação dos documentos do candidato a prefeito. Lucas solicitou a Jovino Conder seu título eleitoral. Surpresa total para o professor e nosso enviado à Niquelândia: o título eleitoral do pretenso candidato era de Rio Maria, no Pará.

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