segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A História Se Repetiu

Na década de 70, Romualdo trabalhava com meu pai numa pequena cerealista de compra e venda de cereais. Embora pequena a firma fazia grande movimento pelo intenso rodízio praticado. Seus fornecedores eram, especialmente do Vale do São Patrício e da Estrada de Ferro.

Com a transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional, Zé Bigode que trabalhava em cargo comissionado na Junta de Alistamento Militar, foi dispensado pelo prefeito nomeado Irapuan Costa Júnior.

Natural de Orizona, onde conhecia os produtores rurais do município, se dispôs visita-los para a compra de feijão roxinho, um dos melhores de Goiás. Romualdo solicitou que Antônio Senhorinho, o Tonho Gaguinho, o levasse a Orizona. Zé Bigode foi de terno e gravata. Se trajava impecavelmente, até mesmo para a compra de feijão na zona rural.

Por volta das 10 horas da manhã daquele dia, fornecedor de Vianópolis, ao fazer o acerto da mercadoria com Romualdo, lhe perguntou se ele ainda possuía um Karmanguia. Ao responder que sim, o cliente lhe indagou:

– Por acaso ele foi para a região da Estrada de Ferro, hoje ?

– Ele está em Orizona ! Disse Romualdo.

– Então era ele mesmo! Quando vinha pra cá , naquela reta chegando ao povoado de Caraíba, município de Vianópolis, vi levantar um poeirão na lateral da estrada e um Karmanguia capotado.

– Eles se machucaram?

– Não! Só o carro ficou com os pneus para cima. Vi um senhor de terno e gravata, todo sujo pela poeira, batendo com as mãos na calça e paletó, falando sem parar:

– Que coisa mais desagradável. Que coisa mais desagradável...

Até hoje Romualdo tenta compreender como o Tonho Gaguinho conseguiu capotar o Karmanguia, sem que batesse em animal, pedra ou buraco numa estrada reta, mesmo não sendo asfaltada.

Impressionado com o inusitado acidente, o promotor de Justiça aposentado, Roldão Izael Cassemiro, já contou essa história para dezenas de alunos seus nas faculdades de direito onde leciona.

Na semana passada, Roldão acompanhou Daniel de Freitas, também integrante aposentado do Ministério Público, a Aruanã. Participaram de audiência no Fórum local. Daniel dirigiu o carro de sua propriedade em que viajaram. Chegaram ao destino por volta das 10h da manhã.

Às 10h30, me encontrava na Rádio Manchester, quando meu celular tocou. Era Roldão falando de Aruanã:

– Adhemar, “que coisa mais desagradável.”

– Que aconteceu Roldão ?

– Sabe aquela história do Zé Bigode limpando com as mãos a poeira da roupa no capotamento do Karmanguia, dizendo sem parar: “Que coisa mais desagradável?”

– Claro que me lembro!

– Aconteceu agora, com a gente!

– Como?

– Nós já estávamos aqui dentro da cidade de Aruanã, numa avenida reta sem nenhum obstáculo pela frente, Daniel perdeu o controle do carro, capotando em seguida. Quando deixamos o carro acidentado, me vi em plena via pública limpando poeira do terno. Mas que coisa mais desagradável. Encerrou a ligação com gostosa gargalhada.

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