quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Irapuan Costa Júnior fez a diferença

As vitórias sucessivas (quatro, entre 1966 e 1972 ) e cada vez mais expressivas do MDB em Anápolis levaram o presidente Emílio Garrastazu Médici a cassar o mandato do prefeito José Batista Júnior (MDB) e transformar o município em Área de Segurança Nacional, em 28 de agosto de 1973. Foi a desesperada tentativa do regime arbitrário de conter avanço santillista. Milton Alves, vice-prefeito, foi impedido de assumir o cargo. O engenheiro Irapuan Costa Júnior, desconhecido do meio político, nomeado prefeito. Residente em Goiânia, sem militância política destacada, partiu para a difícil tarefa de administrar uma das cidades mais convictas no combate à ditadura. A mais importante cidade do interior goiano. Cidade conhecida por ter MDB aguerrido e combativo. Cidade que, em várias oportunidades, dera prova de ser a favor pelas liberdades democráticas.

Irapuan, por não ser político militante, montou seu secretariado com pessoas influentes e bem-sucedidas na iniciativa privada. Sem se preocupar se eram arenistas ou não. Evitou radicalismo político. Não teve tempo para executar obras de destaque. Seu período como prefeito foi muito curto. Atuou mais politicamente que no setor administrativo. O governo federal tinha missão maior reservada para ele: suceder Leonino Caiado. Se sua indicação para a Prefeitura de Anápolis surpreendeu a prória Arena, na escolha para o governo, não houve surpresa. Desde que chegou à prefeitura, ninguém tinha dúvidas de que ali estava o futuro governador. Seu gabinete transformou-se em visitação obrigatória das lideranças arenistas. Leonino Caiado tinha preferência por Manoel dos Reis, prefeito de Goiânia, mas Brasília queria Irapuan.

Durante os 12 anos em que Anápolis foi considerada Área de Segurança Nacional (de 1973 a 1985), passaram pela prefeitura oito nomeados: Irapuan Costa Júnior, Eurípedes Junqueira, Jamel Cecílio, Lincoln de Almeida, Decil de Sá Abreu, Wolney Martins, Olímpio Ferreira Sobrinho e Anapolino de Faria.

Mesmo recebendo com simpatia sua forma suprapartidária de administrar, a população continuou votando contra. Sempre derrotando a Arena, dando vitórias consagradoras ao MDB. Em 1974, com Irapuan já escolhido governador, a derrota arenista em Anápolis foi arrasadora. Durante o período em que a cidade ficou sem autonomia política, o MDB só foi derrotado em 1976, eleição para vereadores, na administração Jamel Cecílio: Arena 8 X 7 MDB. Nas demais, vitórias do MDB.

O Movimento Democrático Brasileiro, ligado ao grupo Santillo, fez oposição a todos os nomeados, como representantes que eram do autoritarismo em Anápolis. Combate em todos os campos de ação. O santillismo se opunha aos nomeados a partir de Irapuan, nas tribunas, comícios, concentrações e simpósios, além do programa radiofônico O povo falou, tá falado.

Assumindo o governo estadual, Irapuan, com sua visão desenvolvimentista e em agradecimento ao povo anapolino, construiu o mais completo e moderno distrito industrial do Centro-Oeste: Distrito Agroindustrial de Anápolis – Daia. Instrumento fundamental para a consolidação do município como o maior polo industrial do Estado. Hoje, a mais importante obra do governo Irapuan abastece mais de 50 mil habitantes, com graças ao extraordinário reservatório e estação de água tratada no Daia. As 1.300 casas do programa Minha Casa, Minha Vida do Conjunto Copacabana serão abastecidas com água do distrito industrial.

Embora sempre combatido, Irapuan não guardou qualquer tipo de mágoa ou ressentimento. Com o passar do tempo, tornou-se amigo fraterno e solidário de Henrique Santillo. Transformou-se em destacado representante de Goiás e defensor da administração Santillo no Senado. Com o distanciamento político de Santillo e Iris Rezende Machado, ficou com Santillo. Irapuan atuou intensa e competentemente para que o PP indicasse Henrique Santillo ao Ministério da Saúde na administração Itamar Franco.

Algumas ações de Irapuan Costa Júnior são pouco conhecidas do grande público. Em 1975, como governador do Estado, enviou proposta de emenda constitucional à Assembleia Legislativa, extinguindo dispositivo que assegurava aos ex-governadores goianos pensão vitalícia. Remuneração idêntica a paga mensalmente a um desembargador do Tribunal de Justiça. A Constituição Estadual, adaptada à Constituição Federal, foi outorgada pelo governador Otávio Lage. A Assembleia Legislativa, em 1969, época da sua elaboração, estava fechada por decisão do governo federal. A Constituição Federal, outorgada por uma junta militar, garantia aos ex-presidentes da República pensão vitalícia equivalente ao salário de ministro do Supremo Tribunal Federal. A goiana privilegiava, com seu artigo 141, os ex-governadores, mesmo sem recolher um centavo ao Ipasgo ou ao Tesouro Estadual. Foi Irapuan Costa Júnior quem eliminou esse escandaloso privilégio, propondo a sua revogação. Eliminando privilégio a políticos, sua atitude até hoje repercute. Não há outra semelhante em todo o Brasil. Não foi promessa de campanha, pois foi nomeado. Não necessitou do voto popular. Abriu mão da polpuda pensão que a Constituição do Estado lhe assegurava ao se transformar, quatro anos à frente – 1979 –, em ex-governador. Abriu mão do direito a aposentadoria que seus antecessores recebiam. Irapuan Costa Júnior, mesmo chegando ao poder sem o voto popular, ouviu o clamor das ruas.

Esse fato se torna mais relevante quando, neste instante, a imprensa noticia que até o senador Álvaro Dias, um dos mais combativos senadores do PSDB, está reivindicando, retroativamente, mais de um milhão e seiscentos mil reais do Tesouro paranaense, com base em pensão vitalícia, por ter governado o Paraná.

Um comentário:

  1. Interessante, esclarecedor e exemplar ! Parabéns Irapuan...

    José Honorato de Oliveira Junior

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