domingo, 6 de março de 2011

Onça e coruja perturbaram o secretário

Oscar de Azevedo Júnior foi secretário de Meio Ambiente da prefeitura de Anápolis de 1997 a 2000. Médico competente e muito conceituado, sempre se preocupou com a preservação da natureza. Na sua propriedade rural, no Tocantins, não admitia corte de árvores e nem caçadas. Os vizinhos o conheciam e nem sequer andavam armados na sua propriedade. Geralmente avisava aos seus auxiliares quando ia à fazenda. Todos que sabiam do seu amor aos animais e à natureza o respeitavam.

Sem ter como contatar seus subordinados, resolveu passar final de semana no Tocantins. Chegando, encontrou no quintal uma onça pintada estirada quase à porta da cozinha. Os vizinhos mataram o animal que vinha devorando bezerros e carneiros, na região. A onça morreu no pequeno pomar da fazenda. Ficou bastante contrariado, mas aceitou a violência dos confrontantes. Pediu aos auxiliares que tirassem o couro do animal. Depois de curtido e seco o levou para sua residência, em Anápolis. Todos que o visitavam ouviam a história da morte da pintada e a razão do seu couro na sala.

Simples e solícito, era querido por todos da secretaria. No seu aniversário, os amigos convidados pela Toninha, sua esposa, foram à sua residência. Oscar estava eufórico com a surpresa que Toninha lhe preparara. Durante a festa, soube que seus companheiros de secretaria haviam convidado o diretor estadual do Ibama para a confraternização. A partir desse instante Oscar desapareceu. Quando Toninha sentiu sua ausência, o procurou no quarto do casal, encontrando-o:

– Oscar, os convidados estão aí e você some ?

– Toninha, matar animal silvestre é crime inafiançável!

– Qual é o problema ?

– O diretor do Ibama está vindo aqui e vai ver o couro da onça estendido na sala.

Toninha guardou o couro no guarda roupa e o trancou. Só assim o aniversariante voltou a participar da festa em sua homenagem.

No outro dia, sábado, foram ao casamento do filho de um casal amigo em Goiânia. Ficaram até tarde participando da festa. Retornando a Anápolis às 4 horas da manhã. Cansado e com sono, Oscar vedou toda claridade que pudesse passar pela janela e alertou a esposa que só acordasse na hora do almoço. Fez tudo que achava necessário para ter sossego e paz. Esqueceu-se de pequeno detalhe: desligar o telefone fixo da tomada. Assim que pegou no sono o telefone tocou:

– É da casa do secretário municipal de defesa do Meio Ambiente?

– Sim, é da casa do secretário.

– Aquí é Isabel. Preciso falar com ele com urgência!

– Dona Isabel, a senhora está conversando com ele.

– É o dr. Oscar, não é?

– Sim...

– Dr. Oscar, essa noite eu cheguei tarde em casa e encontrei uma coruja no jardim...

– Parabéns, a senhora a protegeu de gato ou qualquer outro perigo...

– Parabéns coisa nenhuma! A coruja está com a asa quebrada. Telefonando para minha vizinha, ela disse que essa noite assistiu a um programa de televisão em que uma pessoa foi presa no Paraná por ter matado um pássaro. Me disse ainda que para esse tipo de crime não há fiança. Me garantiu que nesse caso é prisão mesmo...

– Dona Isabel a senhora procure uma delegacia de polícia perto da sua casa e faça o registro do ocorrido e assim estará livre...

– Já estive na delegacia, mas o plantonista me afirmou que esse tipo de ocorrência não é com a polícia civil...

– A saída então é acionar o Corpo de Bombeiros...

– Já entrei em contato com os Bombeiros, mas me esclareceram que eles só atuam quando algum animal está aprisionado em condição de risco ou pondo a vida de alguém em risco. Me disseram que esse não é o caso, pois a coruja depende é de atendimento médico veterinário...

– A senhora vai telefonar para o presidente da Associação de Defesa do Meio Ambiente, Amador Abdalla...

– Foi ele que me forneceu o telefone para que conversasse com o senhor.

Nessa altura já aceso, sono espantado para muito tempo, sem saber a quem indicar dona Isabel, que desde às 22 horas daquela noite não parara um minuto na incansável luta para se desfazer da coruja acidentada, Oscar deu a solução:

– Dona Isabel, investido da autoridade que o cargo me dá, autorizo a senhora a ficar com a coruja em sua casa. Caso aconteça o pior, assumirei inteiramente perante às autoridades legais a responsabilidade pelo acontecido.

Deitou-se quando já havia passado das 5 da manhã. Antes de dormir teve o cuidado de desligar o telefone da tomada.

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