sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Walmir Bastos conquistou os anapolinos

Em 1957 Romualdo e eu estudávamos no Colégio Estadual de Anápolis que funcionava no prédio que pertence a Escola Antesina Santana, situada à Rua Desembargador Jayme, em frente à Igreja de Santana. Henrique já havia concluído o científico e se encontrava em Belo Horizonte para enfrentar o vestibular para medicina na UFMG.


O período letivo já havia iniciado, quando numa determinada noite do mês de março, o professor Hely Alves Ferreira, diretor do Colégio Estadual—que no ano seguinte, 1958, seria eleito prefeito de Anápolis, para um mandato de dois anos, compareceu à nossa sala, numa aula de francês, ministrada pelo professor Geraldo Fleury, tendo em sua companhia um rapaz magrinho, bigode ralo, usando terno de linho creme e gravata borboleta. Disse que o jovem viera de Jequié, na Bahia, para estudar em Anápolis. Tratava-se de Walmir Bastos Ribeiro, que viria se transformar, num futuro não muito distante, no mais eficiente e operoso vereador que já passou pela Câmara Municipal. Figura de destaque na luta contra a ditadura militar.


Walmir Bastos (primeira fila, esq.) durante sessão na Câmara

Walmir gostava de política. Seu ídolo era Vieira de Melo. Respeitado nacionalmente e que representava a Bahia, no Congresso Nacional. Já nas eleições de 1958 para o Grêmio Literário Castro Alves, fez parte da sua diretoria. O presidente era Severino Ferreira. Haviamos deixado Antesina Santana e fomos para o Colégio Estadual “José Ludovico de Almeida,” construído pelo governador Juca Ludovico, na Vila Brasil.

Na eleição de 1966, Walmir Bastos que se consagrara como grande liderança estudantil presidindo o Grêmio Castro Alves, saiu candidato a vereador. Disputou mandato enfrentando especialmente o médico Henrique Santillo, professor de Química Mineral, no científico do Colégio Estadual. Henrique era muito conceituado e querido entre os estudantes e professores. Com mais de 400 votos, Walmir ficou na quarta suplência do MDB.


No desenrolar da legislatura que se findou em 1970, Walmir, carinhosamente conhecido como Baiano, assumiu o mandato em inúmeras oportunidades. O Regimento Interno da Câmara Municipal, permitia que o titular faltando à sessão, o líder da bancada podia convocar o suplente melhor classificado presente ao recinto da Câmara para assumir a vaga. Como vereadores de cidades com menos de 100 mil habitantes não recebiam subsídios e o prefeito Raul Balduino administrava tranqüilo, sem oposição, em todas as sessões havia alguém que deixava de comparecer. Walmir gostava de política, não tinha apego a dinheiro, se fazia presente a todas as sessões, assumindo a vaga.


Fato histórico e raro mesmo, aconteceu naquele período de 1967/1970, no Legislativo anapolino. Iniciando legislatura como quarto suplente da bancada do MDB, o vereador Walmir Bastos ao final da legislatura foi efetivado titular.


No transcurso dos quatro anos, os vereadores emedebistas João Furtado de Mendonça, Adão Mendes Ribeiro, João Luiz de Oliveira e Oscar Miotto, faleceram. Com isso o baiano de Jequié terminou a legislatura em 1970, como titular.


Nas eleições de 1970, Walmir Bastos se reelegeu com expressiva votação. Seus eleitores esclarecidos e politizados eram especialmente profissionais liberais, professores e estudantes. A bancada do MDB elegeu 10 vereadores enquanto a Arena as 5 restantes. A Mesa Diretora da Câmara Municipal, para o biênio 1971/72, foi toda do MDB: Antônio Marmo Canedo, presidente; Walmir Bastos, vice-presidente; Walter Gonçalves de Carvalho, secretário...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O surgimento de uma nova liderança (III)

A decisão parcial do Juiz Eleitoral de Anápolis, Manoel Luiz Alves, tendo como base calhamaço de papéis apócrifos, sem nenhuma denúncia concreta e verdadeira, apenas fofocas, inverídicas e desonestas, nos preocupou. Afinal não havíamos completado dois anos da implantação da ditadura de 1964. Caça aos esquerdistas, lideres sindicais e estudantes era a obsessão dos governantes.Comunista para eles era palavrão! Com a negativa do juiz, as coisas ficariam mais fáceis para os golpistas que queriam matar a liderança de Henrique Santillo no nascedouro. Já contavam com o apoio dos órgãos da repressão. A decisão do juiz deu o respaldo que necessitavam.

Não nos amedrontamos ou intimidamos com o golpe. Partimos para a resistência. Acompanhado do saudoso amigo Amaral Montez, fomos a Belo Horizonte. No Departamento das Execuções Penais da Polícia Civil recebemos certidão negativa de qualquer prisão de Henrique Santillo nos presídios de Minas Gerais. No Dops nenhuma alusão a subversão do estudante Henrique Santillo no Estado. Da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, saímos com declaração de que fora o mais destacado aluno da sua turma em todo curso de medicina. No Comando da Polícia Militar, certidão de que Henrique Santillo não era fichado como comunista na G-2 de Minas Gerais.

Com essa documentação e despesas pagas pelo nosso pai Virginio Santillo, contratamos Rômulo Gonçalves, o mais experiente e famoso advogado de presos políticos em Goiás, para defender Henrique junto ao Tribunal Regional Eleitoral, para onde havíamos recorrido.

No dia da votação, o advogado da Arena presente à sessão do TRE, apresentou um fax enviado pelo governador de Minas Gerais, Israel Pinheiro, ao governador de Goiás Otavio Lage de Siqueira, em que declarava que havia tornado nula a certidão emitida pela G-2 da Polícia Militar, pois “Henrique Santillo estava mesmo fichado como comunista naquela repartição militar.”

Foi mais uma tentativa desesperada dos golpistas na luta para impedir o surgimento de uma nova liderança política em Goiás, evitando que fosse diplomado vereador em Anápolis.

O Juiz Federal José de Jesus, integrante do Tribunal Regional Eleitoral, usando da palavra no instante em que se discutia se o fax enviado pelo governador mineiro deveria ou não anular a certidão da Polícia Militar, disse em seu voto:

"Não se pode anular uma certidão, com sinete da corporação militar de Minas Gerais, por um fax enviado pelo governador Israel Pinheiro de Minas Gerais ao governador Otavio Lage, de Goiás. O que vale é o documento oficial."

Realizado o julgamento o TRE determinou a diplomação do vereador Henrique Santillo e sua posse imediata.

Mesmo com a decisão do Tribunal Regional Eleitoral a favor da diplomação do vereador Henrique Santillo, o juíz eleitoral de Anápolis, Manoel Luiz Alves, se negou a realizá-la. O TRE designou o juiz Sir Roriz, para que cumprisse sua sentença. Assim Henrique Santillo assumiu a cadeira que por mérito e justiça era sua na Câmara Municipal de Anápolis. Enquanto esteve impedido, seu substituto foi Oscar Miotto, primeiro suplente da bancada emedebista. Foi a primeira e grande vitória do grupo santillista, na luta pela resistência democrática, em Anápolis. Surgia uma nova liderança política em Goiás.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O surgimento de uma nova liderança (II)

Filiado ao MDB, e registrado candidato a vereador pelo partido, fomos à luta em busca do voto. Romualdo, radialista conceituado, estimado e de muita credibilidade, fez a campanha entre os colegas de trabalho. Como Presidente da Liga Anapolina de Desportos; ex-presidente do Grêmio Literário Castro Alves, do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida e da União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis - UESA, trabalhei junto aos dirigentes esportivos, atletas e estudantes. Nosso pai Virgínio, levou o nome de Henrique aos comerciantes, fornecedores de cereais, corretores e chapas. Nossa mãe Elydia às suas comadres e amigas. Henrique trabalhou junto aos clientes, alunos do Colégio Estadual, lideranças comunitárias e companheiros da área de medicina.

Campanha silenciosa. Pé na estrada. Os analistas políticos municipais elaboravam suas listas de prováveis eleitos e não o incluíam entre eles. Não era de se admirar, pois pelo MDB, os candidatos apontados pelos especialistas como vitoriosos eram os que disputavam a reeleição; representantes de distritos como Souzânia (Homero Siqueira) e Campo Limpo (Adão Mendes Ribeiro); lideres religiosos ou integrantes de famílias numerosas.

As cédulas eram individuais, com o nome do candidato, colocadas em envelopes rubricados pelos mesários. No dia da eleição amigos eleitores de Henrique tiveram que confeccionar à máquina de escrever, cédulas para urnas do setor central da Cidade. As que haviam sido destinadas a cada sessão eleitoral foram em quantidade insuficiente ou retiradas por adversários. Encerrada a apuração, Santillo obteve 1.536 (hum mil quinhentos e trinta e seis) votos. Mais de 10% dos votos válidos. Votação que jamais havia sido alcançada por outro candidato e até hoje recorde no Município.

A expressiva e surpreendente vitória de Henrique Santillo, com mais de 200 votos sobre Elias Abrão, que alcançou mais de 1.200 (hum mil e duzentos) sufrágios, alvoroçou os adversários. Não tinham explicação lógica para o ocorrido.

Na diplomação dos eleitos, o Juiz Eleitoral, Manoel Luiz Alves, diplomou 14 dos 15 eleitos. Deixou de diplomar Henrique Santillo sob a alegação que seria ele fichado como comunista na G-2 da Polícia Militar de Minas Gerais. Os arenistas elaboraram um calhamaço de denúncias apócrifas, dizendo que como estudante Henrique Santillo teria sido preso várias vezes pela policia mineira; que não estudava e só fazia agitação política; que era fichado como agitador no Dops de Belo Horizonte e fichado como comunista na G-2 da Polícia Militar de Minas Gerais. O juiz aceitou a denúncia e não o diplomou. Tínhamos pela frente um obstáculo tão, ou mais difícil, que vencer a eleição...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O surgimento de uma nova liderança (I)

Anápolis foi destaque nacional no combate à ditadura militarista implantada no País a partir de março de 1964. O grupo autêntico do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), comandado por Henrique Santillo fez do Município a maior trincheira da resistência democrática em Goiás.

Oriundo de Ribeirão Preto, aqui chegando em 1944, Santillo praticamente não teve a infância que os demais meninos da sua idade tiveram. Começou a trabalhar bem cedo para ajudar na renda familiar. O restante do tempo de que dispunha, era para estudar. Cursou o Científico no Colégio São Francisco de Assis, sendo invariavelmente, o primeiro classificado da turma. Branca de Azevedo, posteriormente casada com o saudoso atleta do Ipiranga, Barroso, era sua mais direta concorrente.

Antes de ir para Belo Horizonte, onde cursou Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais, Henrique Santillo fundou e foi o primeiro presidente do Grêmio Literário Clarim das Letras e das Artes, do Colégio São Francisco.

Em Belo Horizonte, enquanto cursava Medicina, participou da política estudantil sendo presidente do Diretório Acadêmico da UFMG; presidente do Diretório Central dos Estudantes de Belo Horizonte e presidente da UEE mineira.

Casado, pai de duas filhas, Sônia e Elidya, professor de química no cursinho preparatório Alfredo Balena, o mais importante da capital mineira, participando ativamente da política estudantil, mesmo assim, foi o primeiro colocado da turma de medicina de 1963.

Retornando a Anápolis no início de 1964, instalou seu consultório médico no prédio da Tipografia Glória, na Avenida Goiás. Prestou serviços à Santa Casa de Misericórdia, Hospital São Zacarias e ao Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência - Samdu.

Em 1966 filiou-se ao MDB. Partido de oposição, presidido em Anápolis pelo, então, deputado Haroldo Duarte. Partidos tradicionais, criados com a redemocratização do Brasil em 1945, cederam lugar a Aliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio à ditadura de 1964 e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição. No mesmo ano, foi candidato a vereador. Concorreu dentro do MDB, com figuras destacadas da política anapolina, como João Furtado de Mendonça, Homero Ferreira, Adão Mendes Ribeiro, Laudo Puglisi, Raimundo de Oliveira Lima, João Luiz de Oliveira, Oscar Miotto, etc. Na chapa arenista a maior expressão foi o, também, médico, proprietário do Hospital São Zacarias, Elias Abrão. Era tido como a maior liderança política anapolina e, se preparava para ser candidato à Prefeitura pela Arena, em 1969...