segunda-feira, 23 de julho de 2012

Goiás não fica bem na fita!


O jornalista Renato Grandelle, publicou na página 30 do jornal O Globo, sábado, 14, quatro casos pesquisados e comentados pelo historiador Nireu Cavalcante, mostrando que corrupção “é mazela antiga no Brasil.”Como a Justiça sempre foi lenta, passa a sensação de impunidade. Nos casos narrados por Cavalcante, fica claro que não é correto responsabilizar esses desvios de conduta, essa modalidade prática de mazela no Brasil, por ser País colonizado por portugueses. Sobre essa questão o historiador relata que quando Pernambuco foi dominado pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, seu principal líder, expoente da invasão, Mauricio de Nassau, à frente dos destinos pernambucanos(1637-1644), praticou atos ilícitos e criminosos como  tortura e suborno enquanto administrava. No entanto foi reconhecido como administrador competente e conciliador pela elite pernambucana. Nassau ao se afastar do comando, orienta seus sucessores a praticarem compra de apoio. Estimulá-os a prática da corrupção  para se manterem no poder. Isso lhes garantiriam apoio da aristocracia e ficariam longe das tropas lusitanas.

Nas orientações aos seus companheiros da Companhia Holandesa, Nassau, segundo o pesquisador e historiador Nireu Cavalcante, instrui seus companheiros: “ Convém... angariar e manter, por meio de favores e de dinheiro, alguns portugueses particularmente dispostos e dedicados ... dos quais possam vir a saber em segredo os preparativos do inimigo.” Cita além da elite pernambucana os padres. “Isso por serem bastante influentes junto à sociedade e por aquilo que ouvem nos confessionários.”

Numa das suas pesquisas o historiador Nireu Cavalcante, constata que muitas vezes o arauto da moral e ética na atividade política, pode dependendo das circunstâncias, se transformar num marginal e corrupto. Ilustrando essa sua afirmação narra a história de um grande intelectual, autor do primeiro livro impresso no Rio de Janeiro, bacharel Luiz Antônio Rozado da Cunha. Presidente da Câmara de Vereadores daquela cidade, entre 1744 e 1750.

Luiz Antônio foi considerado um dos melhores presidentes do Legislativo do Rio de Janeiro, em todos os tempos. Avaliado por 90 representantes da elite carioca, foi considerado como “arauto da ética na política.” Isso pela lisura e competência com que despachava processos e cuidava das atividades parlamentares. Graças a esse prestígio foi indicado, para assumir a provedoria da Fazenda Real de Goiás.

Nessa nova missão, Luiz Antônio, destruiu por tráfico de influência e ações corruptas, sua fama de homem correto, moralista e ético. Nos três anos como provedor da Fazenda Real de Goiás, juntou-se ao ouvidor, ao tesoureiro e ao escrivão da Fazenda Real, além do capitão-mor, de vereadores e alguns padres, formando uma grande quadrilha que desviava ouro durante sua pesagem na alfândega e vendia  animais de transporte e mineração, a preços exorbitantes, o que era vedado a funcionários públicos. Investigação sigilosa ocorrida sob o comando do guarda-mor em Goiás, constatou essas atividades ilegais e corruptas, do homem que três anos antes era tido como exemplo de correção e honestidade pela elite da população do Rio de Janeiro. Ao deixar Goiás, voltando para o Rio, de onde embarcaria para Portugal, foi preso ao chegar à Praça XV, por ordem do governador da Capitania do Rio, seu amigo e admirador, Conde de Bobadela.

O historiador Nireu Cavalcante, com sua pesquisa comprova que trambiques e desonestidade não são atos regionalizados. Não podem também ser atribuídos à nossa descendência portuguesa. Segundo a pesquisa um arauto da ética na política pode, de acordo com as circunstâncias e falhas de caráter, transformar-se em marginal e corrupto. Nireu Cavalcante encerra sua narrativa ao jornal O Globo, de forma radical e injusta para com os goianos. Como o resto do Brasil, o historiador está  intoxicado  pela enxurrada de notícias negativas envolvendo dezenas de políticos e figuras expressivas da sociedade goiana. Pessoas acusadas de envolvimento com práticas criminosas, desvendadas pelas escutas  telefônicas da Policia Federal na Operação Monte Carlo.

Ressalta Nireu Cavalcante:

– “O provedor fez uma administração maravilhosa no Rio e, quando chegou a Goiás, transformou-se em um grande corrupto e logo conseguiu o seu lugar na quadrilha local. Foi uma mudança estranhíssima.”

Goiás e seu povo não podem ser acusados pela mudança ética e comportamental do sr. Luiz Antônio Rozado da Cunha, em 1753. Sua metamorfose se originou, com certeza, pelo seu caráter.  Dar-se-ia aqui, longe do centro do poder, ou em qualquer outro lugar, desde que tivesse oportunidade. Mas que os escândalos revelados pela Operação Monte Carlo prejudicaram a boa imagem nacional conquistada pelos goianos, não há a menor dúvida.

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