segunda-feira, 3 de setembro de 2012

História que se repete


Durante o período mais duro e fechado da ditadura militar de março de 1964, entre os anos 70 e 80, vozes que se erguiam numa multidão sem voz  e vez, denunciando e criticando as atrocidades praticadas pela repressão, além de perseguidas eram censuradas por moralistas a serviço do regime opressor. Geralmente civis, eram arregimentados  para  execrarem publicamente os denunciantes, aos meios de comunicação a serviço da ditadura. Faziam parte das campanhas ufanistas como a do “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”. Todos, sem exceção, que exigiam respeito aos direitos humanos, liberdade de imprensa, eleições livres e diretas, fim da ditadura, anistia, extinção do AI-5 e das leis de exceção. Assembléia Nacional Constituinte e democracia eram tidos como arautos do negativismo, subversivos, maus brasileiros e inimigos da Pátria. O patrulhamento que a ditadura efetuava sobre os democratas, usando serviçais do regime ou inocentes úteis, era tão repugnante quanto as mazelas vindas da repressão oficial com suas torturas e desrespeito aos mais elementares direitos humanos. Para os mais moderados desse grupo de choque, esses que eram conhecidos oficialmente como “maus brasileiros,” com suas cobranças insistentes, estavam pregando o negativismo prejudicando a imagem do Brasil.

Conquistamos a democracia graças a ação destemida de gente que agiu assim. Brasileiros que deram a própria vida em favor da liberdade, respeito ao ser humano e Justiça social; figuras exponenciais da política nacional como Ulysses Guimarães, incansável contestador aos ditadores;  patriotismo e coragem de jornalistas compromissados com o Estado Democrático de Direito, cujo maior representante em Goiás, foi Batista Custódio, com o seu Cinco de Março;  milhões de brasileiros anônimos que resistiram em silêncio.

Mesmo em plena democracia continuamos a conviver com o perigo. Neste momento as truculências da ditadura cedem lugar ao esquema de corrupção implantado em todo Brasil. Não que na ditadura essa não fosse praticada, mas pela censura rígida à imprensa era abafada e não chegava ao conhecimento público. Combate às torturas, prisões arbitrárias, sequestros e todo tipo de desrespeitos à pessoa humana, legalizados por leis de exceção, instrumentos usados pelos ditadores se manterem no poder através do medo, era prioridade.

Hoje, em plena democracia, com liberdade da imprensa, destemor de centenas de jornalistas, eles conscientizaram a maioria da nação que a corrupção é o “cupim que corrói a República” e precisa ser combatida por todas as pessoas honestas e amantes de um País livre e soberano. É dever de toda sociedade “não roubar, não deixar roubar e punir quem rouba.” Parafraseando o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire e o escritor Lima Barreto, com a expressão marcante: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil,” afirmamos sem medo de errar, ou acabemos com a corrupção, ou a corrupção acaba com a República.

É nessa luta necessária e primordial, de todas as pessoas conscientes, sérias e responsáveis, combatendo com tenacidade os que roubam ou deixam roubar,  que muitos a pretexto de defenderem a tranquilidade e paz dos cemitérios, preferem o silêncio a denunciar a corrupção, este câncer que destrói de forma avassaladora todo o tecido social. Muitos, por comodismo e falsa tranquilidade, entendem que essas denúncias de intermináveis atos de corrupção e malversação do dinheiro público, comprometem o País interna e externamente. A imagem do Brasil é comprometida interna e externamente pela ação dos corruptos, não pelas denúncias.

Da mesma forma que denunciamos as atrocidades da ditadura militar de março de 1964, enfrentando torturadores de arma em punho, prontos para prenderem, torturarem e até matarem a todos que exigiam respeito aos mais elementares direitos  humanos, liberdade  de expressão e fim da ditadura, devemos nos unir contra a corrupção que se torna em escândalos cada vez mais frequentes e maiores. Enfrentamos ao mesmo tempo as campanhas ufanistas, morais e cívicas, dos amigos e simpatizantes dos ditadores. Aquela mesma atuação corajosa e patriótica desenvolvida contra a tirania de um governo ilegítimo, deve ser realizada agora, contra corruptos e corruptores, que denigrem um governo legitimo, saído das urnas pela vontade popular. Mesmo que contrariando os que a pretexto de que não se pode dar ênfase ao combate à corrupção porque compromete a imagem do Brasil aqui dentro e lá fora, temos que continuar nessa cruzada. Quem combateu o regime arbitrário de 64, é convocado agora para garantir as liberdades democráticas, conquistadas a duras penas, agindo contra a corrupção, “cupim que corrói a República”, como dizia Ulysses Guimarães.

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