segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Enfrentando o radicalismo interno no PT


Nossa presença na organização do PT, em Goiás, alcançou grande repercussão pelo Brasil inteiro. Ulysses não queria que deixássemos o PMDB. Por várias vezes conversamos sobre isso. Nos encontros pelos corredores e plenário do Congresso Nacional. Ele lamentava que tivéssemos deixado o Partido. Ulysses não se cansava de repetir aos jornalistas, do grande serviço que havíamos prestado à causa democrática no Brasil. Tinha a maior admiração e respeito pelo grupo emedebista e depois peemedebista de Anápolis. Mas, ao mesmo tempo, o presidente Ulysses reconhecia como legitima nossa revolta. Sabia da força do grupo autêntico e santilista em Goiás. Torcia para que o grupo chegasse ao governo no Estado.

Depois de inúmeros contatos com a direção nacional do Partido dos Trabalhadores, chegou o momento de participarmos do grande encontro com militantes do Brasil inteiro, no Colégio Monte Sião, em São Bernardo do Campo. Lula e as mais expressivas lideranças trabalhistas, gente que combateu a ditadura, intelectuais e, nós, parlamentares, nos juntávamos às delegações de quase todos os estados brasileiros, num grande encontro comandado por Lula.

À exceção de Goiás e São Paulo, representados por lideranças preocupadas em organizarem um partido político diferente, pronto para disputar eleições, os demais estados estavam representados por grupos trotskistas, que detestavam a luta parlamentarista, a luta institucional. Repudiavam o ingresso no partido dos que não fossem operários. Patrão? Nem pensar! Até vendedores de quitanda, churrasquinho ou pamonha, que trabalhavam por conta própria, eram, no entendimento desses grupos, patrões. Tinham que ser vetados. Conviviam e nos respeitavam por que conheciam nossa atuação na Câmara Federal e Senado. Sabiam da nossa ação permanente contra a ditadura. Não se sensibilizavam, contudo, com a via congressual... Queriam, porque queriam, a luta revolucionária. Luta sem acordo ou concessão com a elite dominante. Queriam impor, fosse lá por que meio fosse, a ditadura do proletariado.

A delegação goiana foi composta de professores, profissionais liberais, intelectuais e lideranças comunitárias urbanas e rurais. Lideres de bairros, principalmente da cidade de Anápolis. Companheiros como os vereadores Walmir Bastos e Valdivino Pereira e, lideres comunitários como Bertolino Santana e sua cunhada Nica, foram a São Paulo, para o encontrão do PT, representando nossa militância. Henrique, a vereadora por Goiânia Maria Dagmar, eu e outros detentores de mandato, ex-integrantes do PMDB, fomos à frente para ajudarmos na organização do evento.

Nossa delegação, nas primeiras horas da manhã da convenção, chegou ao local do encontro. Valdivino Pereira, Bertolino Santana e Nica, não quiseram descer do ônibus. Fui informado disso pelo vereador Walmir Bastos, que estava no mesmo ônibus. Como se tratava de companheiros autênticos, sem “frescura”, fiquei preocupado. Fui ao encontro deles. O ônibus estava estacionado longe do Colégio Sião.

Amuados nas últimas poltronas resistiram muito para dizer o que acontecera. O que os levaram a ter receio até de descer, para participarem do encontro. Por fim, Nica, nervosa e trêmula, se dispôs a contar o ocorrido durante a viagem noturna de Goiânia a São Bernardo do Campo:

- Adhemar você sabe que nós somos amigos seu e do Dr. Henrique. Nós nunca fomos humilhados como fomos nessa viagem. Pessoal esquisito. Não respeita ninguém. Cada um, acha que é mais que o outro. Faço política com vocês há muito tempo, e para dizer a verdade, só estou vendo essa gente pela primeira vez, agora... (Continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário