quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Aparando arestas


Já plenamente acordada, luzes internas do ônibus acesas, mais de duas horas da manhã, em pleno estado de São Paulo, Nica não estava acreditando no que ouvia e presenciava. Quando Wilmar Cardozo “encheu sua bola”, com adjetivos e mais adjetivos sobre sua trajetória como mulher engajada na luta contra a ditadura e em favor de uma sociedade mais justa, relembrava-se das caminhadas pelos bairros de Anápolis conclamando os amigos, conhecidos e povo em geral para resistir. Não se deixar dominar pelas forças da reação que prendiam, torturavam e humilhavam integrantes do MDB. Ela e os demais integrantes do MDB tudo faziam para enfraquecer a ditadura que tirava o pão e a liberdade dos brasileiros. Sabia que aquilo não poderia prosperar. A única forma para que isso ocorresse era resistir, não se curvar ao poder dos ditadores.

Wilmar: - Nica, por que você está no PT?

Nica - Espera aí... Não sei não! Estou no PT porque sigo a liderança de Henrique Santillo e Adhemar Santillo! Eles estão no PT e eu também estou...

Wilmar: - Sua sem personalidade! Como pode dizer que está no PT porque Henrique e Adhemar estão. Você nem conhece a proposta revolucionária e socialista do PT. Você nunca leu nada sobre o PT. Será que você sabe que somos contra capitalistas? Que somos contra patrões? Que somos a favor apenas da classe operária?

A partir daquele instante a alegria de participar de excursão política, se transformou num verdadeiro tormento para Nica, Bertolino e Valdivino. O único que não se abateu foi o vereador Walmir Bastos, preso inúmeras vezes pela Policia Federal e pelo Exército. Enquanto Wilmar Cardozo dava aquele verdadeiro esculacho pela resposta simples, sincera de Nica, Walmir dava gostosas gargalhadas, irritando ainda mais o arquiteto locutor. Quando chegaram a São Bernardo do Campo, Valdivino, Bertolino e Nica se negaram a deixar o ônibus. Preferiram irem para o fundo do veículo e amuados no último banco, negavam-se a participar do encontro petista.

Informado da disposição deles em não descerem para adentrarem ao recinto onde a solenidade acontecia, pelo vereador Walmir Bastos, fui ao ônibus para saber o que havia acontecido. Relataram-me, em detalhes, o ocorrido. Prestei-lhes a assistência que necessitavam e os levei em minha companhia. Ficaram nas últimas cadeiras do auditório. Enquanto isso, fui conversar com lideranças de várias partes do Brasil presentes à convenção do Partido dos Trabalhadores.

No momento da formação da mesa diretora dos trabalhos, os lideres sindicais, lideranças como Apolônio de Carvalho, Manuel Anunciação e, Abadia, líder dos canavieiros de Pernambuco e muitos outros foram chamados a participarem da mesa. Lula e Henrique Santillo, único senador do Partido dos Trabalhadores, foram chamados ao mesmo tempo. Entraram ao recinto aplaudidíssimos. Lula presidiu os trabalhos e Henrique Santillo os secretariou. Nós, os cinco deputados federais, fomos orientados a ficarmos nas cadeiras que estavam atrás da mesa diretora. Como naquele local, também, estavam instalados os possantes alto falantes, o barulho ensurdecedor nos expulsou em poucos instantes.

Ao sair, fui abordado por Marcos, da delegação paranaense. Abraçou-me, mostrou sua simpatia ao trabalho que realizava no Congresso Nacional. Acompanhava minha atuação desde o grupo autêntico do MDB e, agora, na liderança do PT:

Marcos - “Adhemar, os companheiros Narciso Sapateiro e Escavu, são de Goiás?”

Adhemar - “Sim são de Goiás!

Marcos - “Se inscreveram para falar contra Onofre Quinan e Ary Demósthenes.” Continua...

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